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terça-feira, 19 de maio de 2009

REALISMO E O NATURALISMO EM PORTUGAL

Torna-se mais fácil entender o termo, conhecendo-se os elementos que o compõem: Realismo = real ( do latim res), significa coisa, fato + o sufixo -ismo que denota partido, gênero, doutrina, profissão, crença, escola. A palavra realismo indica, pois, a preferência pelos fatos e a tendência a encará-los sob o prisma da realidade. Em literatura, o termo realismo opõe-se a idealismo, designado as obras literárias que retiram da vida real seus assuntos de forma objetiva, documental. O Romantismo foi o estilo de época anterior ao Realismo, voltado para o predomínio da emoção e da subjetividade. Entretanto, a substituição da estética romântica pela realista não ocorreu de repente e, em muitos momentos, estas duas manifestações literárias coexistiram. Diz Afrânio Coutinho que “o século XIX é uma grande encruzilhada de correntes literárias”. Origem O Realismo é um fenômeno cultural típico do século XIX, embora sua existência seja tão antiga quanto a das artes. O artista, em seu processo de criação, parte da observação da realidade que o cerca e pode reproduzi-la fielmente em sua obra (atitude realista) ou recriá-la através de sua imaginação (atitude romântica ou idealizadora). Assim, ao longo dos tempos, a postura realista esteve sempre presente, em maior ou menor grau; só no século XIX, porém, essa postura é adotada como estética e se desenvolve intensamente, através do movimento denominado Realismo. Como movimento literário, o Realismo origina-se na França com Balzac e Flaubert. Esses escritores apresentam, em sua ficção, uma considerável tendência anti-romântica. Flaubert publica, em 1857, Madame Bovary, obra que define o Realismo na França. Em 1865, Claude Bernard publica uma tese sobre a hereditariedade: Introdução à Medicina Experimental. Entusiasmado com a leitura desse livro, Émile Zola, em Le Roman Experimental, estabelece um paralelo entre as teorias científicas de Bernard e a literatura, concluindo que entre elas não há distinção. Em 1876, Zola lança as bases do romance naturalista com o livro Thérese Raquin. Dentro do Realismo, surge uma outra corrente literária motivada pela intensificação de algumas de suas características: é o Naturalismo. Nele, exagera-se a tendência de observar a realidade de forma científica, buscando evidenciar seus aspectos mais doentios ou brutais. O Naturalismo é o Realismo levado ao extremo. Panorama histórico-cultural O século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais. A Revolução Industrial, iniciada no século anterior, encaminha-se para uma fase nitidamente urbana, com o surgimento de indústrias que empregam boa parcela da população. Apesar de realizar jornadas de trabalho de até catorze horas diárias, o proletariado não tem acesso aos bens que produz. Em 1848, em seu Manifesto Comunista, Marx e Engels haviam discutido o problema, evidenciando a distinção entre capital e trabalho e mostrando o quanto o aspecto social está vinculado ao econômico. Além do socialismo marxista e do proudhoniano, marcados pelo materialismo, surge também o Positivismo, filosofia criada por Augusto Comte. Nela rejeitam-se todas as interpretações metafísicas sobre a realidade, mostrando que o estágio mais avançado do desenvolvimento do ser humano seria o estágio científico. Charles Darwin lança sua teoria sobre o evolucionismo das espécies, mostrando que há um processo de seleção natural, o que faz com que as teorias pregadas pela Igreja sejam questionadas. Essa nova filosofia de vida (cética e materialista) põe em evidência o fato do homem ser um produto do meio e do momento em que vive. Com o progresso da ciência, o homem passa a indagar sobre as razões dos fenômenos; não mais permanece impassível, inerte diante dos acontecimentos e, em decorrência disso, profundas alterações ocorrem na estrutura social e econômica dos grandes centros urbanos: a) triunfo material e político da burguesia; b)mecanização intensiva, principalmente pela aglomeração do proletariado nos grandes centros industriais; c) com a evolução das idéias sociais, surge uma nova filosofia do proletariado; d) o desnível entre a evolução social e econômica de um lado, e a política do outro, gerando grandes conflitos ideológicos; e) melhoria e maior rapidez dos meios de transportes e de comunicação: construção de estradas de ferro, o telégrafo, a navegação a vapor, tudo isso colaborando para proporcionar um novo caráter de vida à humanidade. Todas essas novas idéias fazem com que se inicie uma reação anti-romântica, um verdadeiro processo de ruptura cultural, que se reflete na literatura. Tendências O Realismo foi um movimento literário marcado por uma oposição ao idealismo romântico. Desdobrou-se em: realismo e naturalismo, na prosa; parnasianismo, na poesia; É possível salientar as seguintes tendências do Realismo: a) em Portugal: inicia-se o Realismo em Portugal com a ruidosa polêmica Questão Coimbrã. A poesia realista tem como principais representantes: Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Gomes Leal e Cesário Verde. b) no Brasil: o romance realista surge, em 1881, com Machado de Assis que escreve Memórias Póstumas de Brás Cubas. O romance naturalista passa a ser cultivado pro Aluísio Azevedo nas obras: O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão; e por Júlio Ribeiro em A Carne. A poesia parnasiana tem como principais representantes: Olavo Bilac, Raimundo Correira, Alberto de Oliveira.